
Este é o espaço da Mestra Dona Josefa do Sitio Alto, Patrimônio Vivo da Cultura Sergipana e guardiã de saberes ancestrais que atravessam o tempo com força, beleza e raiz. Aqui, cada gesto, canto, bordado ou palavra carrega histórias de um povo, de uma terra e de uma tradição que não se apagam.
Reconhecida com o Grau de Mérito Universitário como Mestre em Artes e Cultura Popular, a Mestra Dona Josefa do Sitio Alto transforma sua experiência de vida em um farol para novas gerações. Seu legado pulsa em cada oficina, celebração, roda e ensinamento.
Patrimônio vivo da cultura sergipana, Josefa Santos de Jesus, também conhecida como Dona Josefa do Sítio Alto, é uma mulher quilombola, mãe de 5 filhos, e líder comunitária do quilombo Sítio Alto, localizado em Simão Dias, Sergipe. Benzedeira, guardiã de sementes crioulas e preservadora da memória, histórias e tradições culturais do seu quilombo. Dona Josefa do Sítio Alto é uma ativista em diversos movimentos sociais, com destaque para a defesa da cultura popular, saúde e agricultura familiar.
Sua principal manifestação cultural é a Dança de Roda, uma expressão de identidade e resistência que ela lidera com muito orgulho. Esta dança tem um papel central na comunidade, sendo um instrumento de saúde, resolução de conflitos e promoção da união entre as gerações. Dona Josefa do Sítio Alto também é compositora de várias canções que abordam questões da vida rural, soberania alimentar e a importância da preservação ambiental.
Ela é reconhecida por lutar pela valorização e preservação das tradições culturais de seu povo, recebendo diversos prêmios entre eles o de Patrimônio Vivo da Cultura Sergipana e Culturas Populares Edição Leandro Gomes de Barros, concedido pelo Ministério da Cultura. Seu trabalho é reconhecido também na academia, tendo sido tema de dissertações e teses sobre a Dança de Roda e a conservação ambiental no Sítio Alto.
Além disso, Dona Josefa do Sítio Alto participa ativamente da educação escolar quilombola e de diversas instâncias políticas e sociais, como o Sindicatos e Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA). Sua trajetória é marcada por lutar pela melhoria das condições de vida da sua comunidade e pelo fortalecimento da autoestima do povo quilombola.
"O título de Patrimônio Vivo da Cultura Sergipana premiou nossa trajetória como guardiã da memória, saberes e fazeres quilombolas na construção da identidade cultural sergipana. Além de fazer reconhecer a nossa trajetória de luta e preservação da nossa cultura, esse prêmio nos dá possibilidades de fortalecer e disseminar muito mais a potência do povo quilombola."
Por Roberto Lacerda. Prof. Associado da UFS. Doutor em Desenvolvimento e Meio AmbienteFoi uma das responsaveis pela criação da Associação comunitária do Sitio Alto em 1995.
Mais do que uma homenagem, esse grau representa o diálogo entre a academia e a cultura popular, reconhecendo que o saber da vida, transmitido oralmente e vivido nas comunidades, tem tanto valor quanto o conhecimento formal. Para a Mestra Dona Josefa do Sitio Alto, essa conquista é coletiva: é a valorização de um povo, de um território e de uma herança viva.
A Mestra Dona Josefa do Sitio Alto compartilhou seu conhecimento sobre as inter-relações entre práticas culturais e bem-estar comunitário. Sua participação trouxe uma perspectiva viva e tradicional para o debate acadêmico, evidenciando como a cultura é fundamental para a promoção da saúde em diferentes territórios. Ao integrar saberes ancestrais e atuais, sua aula contribuiu para fortalecer a compreensão sobre a importância da diversidade cultural na construção de políticas e práticas de saúde mais inclusivas e respeitosas.
A Mestra Dona Josefa do Sitio Alto recebeu o reconhecimento oficial como Mestra da Cultura Popular de Simão Dias/SE, um título que simboliza sua dedicação à preservação e difusão das tradições culturais locais. Esse reconhecimento valoriza seu papel fundamental na manutenção das expressões artísticas e saberes populares, fortalecendo a identidade cultural da comunidade e inspirando novas gerações a manter viva a herança cultural da região.
Ao receber o Prêmio Nordeste Mais Cultura, a Mestra Dona Josefa do Sitio tem seu compromisso com as tradições culturais reafirmado e ganha maior visibilidade para ampliar o alcance de seu trabalho. Essa conquista fortalece também a ligação entre as comunidades, as políticas públicas e os agentes culturais que atuam na defesa da cultura popular como ferramenta de resistência, desenvolvimento social e valorização identitária.
Como guardiã de sementes Dona Josefa do Sítio Alto, desempenha um papel fundamental na preservação das sementes crioulas no Quilombo Sítio Alto. Desde a infância, aprendeu com seu pai o cultivo e o cuidado com diversas variedades de feijões, milhos, favas e outras plantas mantendo viva a tradição familiar e ancestral de guardar sementes. A prática, passada de geração em geração, conecta-a aos seus antepassados e reforça o vínculo com a terra.
Com mais de 20 variedades de sementes preservadas, Dona Josefa resiste ao avanço da agricultura industrial e do uso de agrotóxicos, mantendo viva a diversidade biológica e os saberes ancestrais. A riqueza das sementes que guarda é fruto de uma herança cultural que assegura o sustento e a identidade da comunidade. Além de preservadora, ela se tornou um símbolo de resistência cultural e ecológica no quilombo, promovendo o cultivo orgânico e sustentável como forma de proteger a terra e os conhecimentos que sustentam o Sítio Alto.
Dona Josefa do Sítio Alto, líder comunitária e guardiã da cultura quilombola de Sítio Alto, tem uma relação profunda e espiritual com a Dança de Roda, tradição central de sua comunidade. Para ela, a dança é uma extensão de sua identidade e um elo com o passado ancestral do quilombo. Nascida no contexto de resistência dos escravizados, a Dança de Roda foi preservada e transformada por seus ancestrais em uma prática de cura, união e fortalecimento comunitário, segundo conta Dona Josefa do Sítio Alto.
Como compositora e condutora do grupo, ela escreve músicas que refletem temas importantes para a vida quilombola, como a luta pela soberania alimentar, a preservação das sementes crioulas e o respeito à terra. Cada canção que entoa é uma mensagem de resistência, transmitindo às gerações mais jovens os valores e ensinamentos de seus antepassados.
A dança também serve como uma forma de terapia coletiva: desde questões emocionais até conflitos familiares, tudo pode ser resolvido na roda, em meio ao canto e à dança. Quando o grupo começou a se apresentar fora do quilombo, a Dança de Roda tornou-se um símbolo de autoestima e orgulho, projetando a voz do Quilombo Sítio Alto para além de seus limites.
"Sítio Alto segure sua bandeira, não fique triste, nunca pare de lutar [...]". Trecho do hino do Sítio Alto, compositora: Dona Josefa do Sítio Alto